- Ẹ̀KỌ́ ANCESTRAL
Azoany: 27 anos de fé, resistência e memória viva
- Alice Rodrigues
No calendário espiritual do candomblé baiano, agosto é mais que um mês — é um chamado. É o tempo em que o sopro quente do vento e o perfume das folhas secas anunciam a presença de Omolu, senhor das doenças e da cura, guardião das passagens e mestre da resistência. É também o período em que as ruas recebem, com passos compassados, a Caminhada Azoany, que este ano celebra 27 anos de devoção, ancestralidade e afirmação das raízes afrodiaspóricas.
O nome “Azoany” carrega em si um significado profundo: é uma das formas de nomear Omolu (também chamado Obaluaiê, Xapanã, entre outros nomes, conforme as nações de candomblé). No culto jeje-mahi, Azoany é a designação que ecoa respeito e temor, pois se refere ao orixá que cobre o rosto e o corpo com palhas, não apenas para esconder as marcas das doenças, mas para lembrar à humanidade da fragilidade da carne e da força do espírito. É o orixá que transforma dor em remédio, doença em aprendizado e isolamento em recomeço.
A importância de Omolu em agosto é mais do que simbólica. Este é o mês em que suas festas e obrigações se multiplicam nos terreiros da Bahia, marcando um ciclo de renovação espiritual e de lembrança dos que partiram. É um período em que a coletividade reafirma que a fé negra sobreviveu ao açoite, à cruz forçada e ao esquecimento imposto — e continua viva, pulsando nos corpos que dançam, cantam e caminham.
Mais do que um evento, a Caminhada Azoany é uma declaração política e cultural. É a reafirmação de que as manifestações afrodiaspóricas não são folclore nem espetáculo, mas patrimônio vivo que precisa ser protegido e fortalecido. É a lembrança de que, enquanto os pés tocam o chão sagrado da cidade, eles também recontam uma história que começou muito antes de 1998, quando a primeira caminhada foi realizada — uma história que atravessa oceanos e séculos.
Programação oficial da 27ª Caminhada Azoany – 16 de agosto:
• *10h30 – Missa* na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho.
• *12h – Concentração* na Rua Alaíde do Feijão.
• *13h – Início da caminhada*, reunindo devotos, adeptos e simpatizantes.
A camisa oficial do evento custa R\$ 50,00 e estará disponível para compra no local.












