- Ẹ̀KỌ́ ANCESTRAL
MALCOLM RAMSÉS: A FORÇA DA ANCESTRALIDADE QUE FAZ ECOAR O TAMBORES DA BAHIA
- Alice Rodrigues
Por Coluna Eko Ancestral – Fala Soterópolis
A história de Malcolm Ramsés é costurada com fios de tradição, memória e música. Nascido em uma linhagem que honra a ancestralidade como princípio e caminho, Malcolm carrega no corpo e no tambor a herança de mulheres que moldaram a cultura negra da Bahia. Bisneto da *Yalorixá Alice dos Santos Silva (in memoriam)*, neto de *Cristina Rodrigues, uma das fundadoras do Bloco Afro Olodum*, e filho de *Alice Rodrigues, Cientista Social e ex-diretora do Olodum*, ele cresceu imerso na força espiritual, artística e política dos territórios de matriz africana.

Criado dentro de um terreiro de Candomblé, Malcolm aprendeu cedo que a música é também oração, axé, ancestralidade em movimento. Esse ambiente sagrado, onde ritmos, rezas e tradições se entrelaçam, moldou seus valores e fortaleceu seu respeito profundo à cultura afro-baiana. Ali, ele compreendeu que tocar um tambor vai muito além do gesto técnico: é um diálogo entre o visível e o invisível, entre o agora e o que veio antes.
*Sua iniciação musical aconteceu aos três anos de idade, na Escola Criativa Olodum* – espaço que é referência para a formação de jovens percussionistas e guardião de uma estética sonora que a Bahia ofereceu ao mundo. Desde então, Malcolm trilhou uma jornada que combina disciplina, espiritualidade e compromisso com suas raízes, atuando como músico profissional desde 2016.

Hoje, ele é *Ojú Obá e Ogan* iniciado no *Ilê Axé Ojô Igbí Alá*, consagrado ao Orixá Xangô, senhor da justiça e do fogo. Essa dimensão espiritual atravessa sua música e dá potência ao seu trabalho artístico e comunitário. Em Feira de Santana, Malcolm desenvolve projetos culturais e musicais que difundem ritmos afro-baianos, preservam saberes ancestrais e formam novas gerações de jovens percussionistas.
Como *mentor das oficinas “Ogan no Ritmo dos Orixás – Ilú Obá”*, ele compartilha aquilo que aprendeu nos terreiros e nas ruas: a música que nasce do axé, a cadência que dialoga com a identidade negra, o tambor que conta histórias e conecta vidas.
Com participações em bandas, mostras culturais e iniciativas formativas, Malcolm Ramsés segue pavimentando uma trajetória que honra a memória de sua família e reafirma a potência do legado afro-baiano. Sua caminhada é, ao mesmo tempo, individual e coletiva — porque cada toque de tambor reverbera uma ancestral que caminhou antes e aponta caminhos para quem virá depois.
Malcolm é mais que um músico. É a continuidade de uma tradição viva. *É herdeiro e guardião de um axé que atravessa gerações.* É a prova de que quando a ancestralidade conduz, a música nunca silencia — ela ecoa, transforma e eterniza.
Texto: Alice Rodrigues












