Negros no SAC: Racismo Estrutural e Falta de Postura Antirracista Marcam Atendimento no Setor de Identidade

O racismo estrutural ainda se manifesta cotidianamente nos espaços públicos de atendimento à população. Um dos casos que evidencia essa realidade vem sendo observado no Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) da capital, mais precisamente no setor responsável pela emissão da nova Carteira de Identidade Nacional (CIN), no Salvador Shopping.

Relatos de cidadãos negros e pardos apontam para um padrão recorrente de constrangimento, falta de informação e tratamento desigual no atendimento prestado. A queixa mais frequente está relacionada à forma como os atendentes — e, sobretudo, o coordenador do setor — conduzem as interações com os usuários. A ausência de acolhimento, a impaciência diante de dúvidas comuns sobre o novo modelo de identidade e a postura ríspida com pessoas negras têm causado desconforto e sensação de exclusão.

Além disso, observa-se um despreparo visível no trato com questões raciais por parte da coordenação. Não há sinalização de protocolos antidiscriminatórios nem ações afirmativas que garantam uma conduta alinhada aos princípios de igualdade racial. Quando questionado, o coordenador do setor evita posicionamentos claros ou demonstrativos de compromisso com práticas antirracistas — o que agrava o sentimento de invisibilidade vivenciado por muitos usuários.

Segundo especialistas em direitos humanos, esse tipo de conduta se enquadra no que é definido como racismo institucional, uma das faces mais silenciosas e persistentes do racismo estrutural: ele não se apresenta apenas em atos explícitos de discriminação, mas se revela também na falta de preparo, empatia e responsabilidade dos agentes públicos em ambientes de atendimento básico.

Outro fator que amplia o problema é a falta de clareza nas informações sobre o novo documento de identidade, especialmente no que diz respeito aos documentos exigidos, prazos de emissão e formatos válidos. Para muitos usuários com menor grau de letramento digital, isso resulta em repetidas idas ao SAC sem sucesso — e, em alguns casos, acompanhadas de abordagens desrespeitosas ou desmotivadoras.

Vale destacar que o SAC é um equipamento público essencial, voltado a garantir cidadania e acesso a direitos fundamentais. O atendimento a qualquer pessoa deve ser pautado pela igualdade, dignidade e respeito à diversidade racial e social dos cidadãos baianos. O contrário disso, como mostram os relatos, compromete a própria função pública do serviço.

Diante das denúncias, torna-se urgente que o SAC e os órgãos gestores do sistema implantem ações formativas para servidores, canais de escuta ativa para casos de racismo e políticas de combate ao preconceito institucional — não apenas como resposta pontual, mas como estratégia permanente de reparação e justiça racial.

A luta por um atendimento digno e igualitário em serviços públicos é parte fundamental do enfrentamento ao racismo estrutural no Brasil. E ela começa — ou se intensifica — nos pequenos gestos, olhares e condutas que os profissionais mantêm diante da população negra todos os dias.

Matéria por Alice Rodrigues e André Cunha

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